segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A Rua, o Palco

No inicio, era uma Rua escura que lhe causava insegurança, medo de não saber onde pisava, de não reconhecer os códigos locais. Seus olhos dilatavam, sua carne endurecia.

Sentou naquela mesinha meio a contra gosto, não se afeiçoou à primeira vista. Conforme foi se entregando, foram aparecendo uma serie de sensações que não havia experimentado antes. Aquele confit de pato, carne macia perfumada com mel de lavanda alterou seus sentidos elevando-a a um estado jamais povoado antes, acompanhado de um inigualável vinho da casa e uma musica típica, a configuração inicial foi modificada.

Entre goles do vinho, começou a admirar o espectáculo que descortinava à sua frente. A Rua escura virou um palco, e ela, na primeira fila da plateia.

Primeiro ato: Uma família com vestimenta pomposa surgia daquele Nada, vestidos longos com babados, semblantes sisudos, típicos franceses aristocratas do séculos anterior rasgavam o vazio silencioso da Rua.

Segundo ato: Uma senhora oriental, carregada de sabedoria, compenetrada e paciente, acompanhava as alunas, também orientais, com seus violinos embaixo do braço até a esquina. As meninas, com 8 e 6 anos aproximadamente, desciam a rua num companheirismo mudo, deviam ser irmãs. A senhora as seguia, atenta. Trocaram olhares e partiram.

A essa altura já estava encantada com aquele ballet quotidiano, inebriada pedia mais vinho.

Viu descer uma mocinha correndo apressada, com roupa moderna, olhava as horas, a cada passo que dava.

Pausa.

Surgiram três jovens, de mochila e bicicleta. Foram em direção a portinhola logo atrás dela, entraram com mochila, bicicleta e tudo. Num papo caloroso sobre arte e cultura, na mesma rapidez que entraram, saíram com toda a tralha e seguiram o caminho.

De repente, passam dois bêbados aos gritos, lembrando a ela que estava num pais estranho com códigos diferentes, mas aquela altura não deixou este sentimento entrar onde não era chamado.

E assim seguiu a noite; grupos de meninos adolescentes conversando alto, com roupas customizadas e garrafas de bebida na mão. Um pintor carregando seus quadros lentamente, um casal de namorados discutindo relação, família de ingleses curtindo os últimos momentos de ferias, casal jovem com bebê, amigas produzidas indo curtir a noite, crianças de bicicleta, homem com buque de flores na mão, sanfoneiro musicando seu passeio...

Muitos e muitos atos se apresentaram ali, cada um em seu percurso constituía o espetáculo.



Ultimo ato: mãe e filha com ar de satisfação plena penetravam naquele ballet. Com um dialogo descontraído buscavam o descanso para mais um dia de aventura.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O quadro


 Visões

Silênciosas

Escapam à sua frente.

Pinceladas

Estáticas

Pintam

O quadro.