terça-feira, 28 de julho de 2009




 "Gloria desabou na primeira cadeira com sua bolsa pesada de cadernos, reavendo, sem mais, uma questão antiga que tanto a incomodava. Não estava apenas saboreando o incidente, catalogava-o, por compulsão, e ele passava a ser moral, e, logo, imprescindível malha na tessitura de sua vida. Aquilo cansava. Desde sua juventude invejava as amigas que comiam comendo, namoravam namorando e até mesmo colavam colando, com afinco e esmero, confundidas elas próprias com o objeto de suas ações. Como o pai na mesa, batendo o osso no garfo pra tirar o tutano, de tal modo embebido e completo que ela entendia o que era uma forma, o inteiro sem fragmentos. Desejou ser assim. Desejara sempre. Tomava banho 'sabendo,'sabia' que namorava, assistia-se existindo, exaurida, desejando ser expulsa de si para gozar a existência como coisa, bicho e algumas pessoas parecem gozá-la. não sabia formular o confuso e incomodo sentimento. Quando melhor o explicou já era quase noiva, confessando-se: padre, eu queria muito ser leviana, quero dizer, não me tornar uma leviana, por decisão, mas ter nascido leviana, bronca, suficientemente estupida pra fazer as coisas sem interrogação. Não se lembrava de o padre havê-la compreendido."




                                                                                                               Adelia Prado

  

quinta-feira, 23 de julho de 2009



Não parecia possível um simples fato leva-la a um lugar tão distante.


Numa fração de segundo presentificou história, seu corpo revirou inteirinho. Estava diante de um fenomeno que não dominava. Teve consciência na hora, porém não sabia o que fazer com aquilo, caminhava por terras aridas e remotas e ao mesmo tempo que engolia seco e contradizia-se para si mesma, sentia um certo encantamento com a grandeza e a beleza que tinha naquilo tudo que não consegui traduzir em palavra.


A vida (su)real passava lá fora, na janela daquele onibus que corria contra o tempo, num subúrbio qualquer. Fora, era um amontoado de imagens soltas a sua vista, sem significado, dentro, um turbilhão de conteúdos reviravam em seu corpo ,chacoalhava tudo. Havia o sentimento presente, fazia analogias infinitas, desenvolvia teorias, articulava ideias, lembrava de conversas importantes com amigas.


Se sentiu um veiculo de sensações. Mesmo sem aviso prévio emprestava seu corpo para que ele pudesse carregar essa bagagem milenar, com pesos variados, colorações e ritmos diverso. Era uma bagagem que crescia numa progressão geométrica. Conforme ia incluindo as tonalidades ela ia se constituindo num raio maior, com uma complexidade impalpável.


Seu corpo estava completamente contraído, e sua respiração quase não passava por aquele buraco na altura do estomago.


Acho que teve medo.



segunda-feira, 20 de julho de 2009

(en)laço





















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Chuva verde

















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Lembranças de verão




[meados de janeiro]

Chove cantaros por toda cidade

Fazendo escorrer fantasias de carnaval
Fazendo chorar euforia de carnaval

e ela, sem fantasia nem euforia
(NUA)
pensando na vida
(CRUA)


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Universo ao meu redor




Quando se deu conta brilhava
movimentava-se igualsinho,
mas tudo girava diferente, mesmo que indo na direção proposta. 
um refrão melodiava em sua cabeça, 

vai
vai


vai

vai

vai
vai





*colagem sobre papel + foto de Mariana Kaufman

sexta-feira, 17 de julho de 2009

auto-retrato II



Revolução Cubista

com muita atenção, 
a mocinha se divide em um milhão

tece um colchão, 
e de todas as barreiras,
lança mão
vai até o fim do poção.


Receita:
um punhado de abstração
um tanto de solidão
misturado com obstinação
e uma pitada de confusão



auto-retrato I



Minhas veias migram
Ramos de veias explodem

ram i fic AÇÃO

meu corpo se movimenta liquido 








col'agua



TUM, TUM, TUM, TUM, 

quarta-feira, 15 de julho de 2009