quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Ato




Sentia-se princesa ao receber flores. Aquele simples ato (tão simples, pensava ela) tinha a capacidade de leva-la a outra instancia,
eleva-la
e le va - la
ele va lá

- Vá lá moço, atue esse simples ato tão atado !

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A Rua, o Palco

No inicio, era uma Rua escura que lhe causava insegurança, medo de não saber onde pisava, de não reconhecer os códigos locais. Seus olhos dilatavam, sua carne endurecia.

Sentou naquela mesinha meio a contra gosto, não se afeiçoou à primeira vista. Conforme foi se entregando, foram aparecendo uma serie de sensações que não havia experimentado antes. Aquele confit de pato, carne macia perfumada com mel de lavanda alterou seus sentidos elevando-a a um estado jamais povoado antes, acompanhado de um inigualável vinho da casa e uma musica típica, a configuração inicial foi modificada.

Entre goles do vinho, começou a admirar o espectáculo que descortinava à sua frente. A Rua escura virou um palco, e ela, na primeira fila da plateia.

Primeiro ato: Uma família com vestimenta pomposa surgia daquele Nada, vestidos longos com babados, semblantes sisudos, típicos franceses aristocratas do séculos anterior rasgavam o vazio silencioso da Rua.

Segundo ato: Uma senhora oriental, carregada de sabedoria, compenetrada e paciente, acompanhava as alunas, também orientais, com seus violinos embaixo do braço até a esquina. As meninas, com 8 e 6 anos aproximadamente, desciam a rua num companheirismo mudo, deviam ser irmãs. A senhora as seguia, atenta. Trocaram olhares e partiram.

A essa altura já estava encantada com aquele ballet quotidiano, inebriada pedia mais vinho.

Viu descer uma mocinha correndo apressada, com roupa moderna, olhava as horas, a cada passo que dava.

Pausa.

Surgiram três jovens, de mochila e bicicleta. Foram em direção a portinhola logo atrás dela, entraram com mochila, bicicleta e tudo. Num papo caloroso sobre arte e cultura, na mesma rapidez que entraram, saíram com toda a tralha e seguiram o caminho.

De repente, passam dois bêbados aos gritos, lembrando a ela que estava num pais estranho com códigos diferentes, mas aquela altura não deixou este sentimento entrar onde não era chamado.

E assim seguiu a noite; grupos de meninos adolescentes conversando alto, com roupas customizadas e garrafas de bebida na mão. Um pintor carregando seus quadros lentamente, um casal de namorados discutindo relação, família de ingleses curtindo os últimos momentos de ferias, casal jovem com bebê, amigas produzidas indo curtir a noite, crianças de bicicleta, homem com buque de flores na mão, sanfoneiro musicando seu passeio...

Muitos e muitos atos se apresentaram ali, cada um em seu percurso constituía o espetáculo.



Ultimo ato: mãe e filha com ar de satisfação plena penetravam naquele ballet. Com um dialogo descontraído buscavam o descanso para mais um dia de aventura.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O quadro


 Visões

Silênciosas

Escapam à sua frente.

Pinceladas

Estáticas

Pintam

O quadro.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009



  • .
  • Seu corpo era ligado a um olho d'água, lá no fundo do oceano, onde a água brotava livremente, límpida. 
  • Era uma oscilação entre força e delicadeza. A força física da terra, junto com a delicadeza das bolhas de ág

  • ua que se formavam em ritmo ordenado,calmo e contínuo. 
  • Ao lado, espalhavam-se jóias coloridas e moedas de ouro, daquelas bem gordas, como tesouro mesmo.

  • Seu corpo todo foi tomado por aquele tesouro, gotas d'ouro pingavam por todos os lados, experimentava uma sensação de relaxamento e beleza.  (Lembrou de filmes que via na infância, onde grupos de crianças perdidas achavam navios com tesouros esplendorosos, em paisagens incríveis brincavam, riam e mergulhavam em aguas claras vivendo aquilo com intenso prazer, e a menina, no sofá da sala maravilhada, querendo pular para dentro da televisão)

  • Foi parar num ritual sagrado a beira mar, onde a Rainha do Mar saudava os presente.
  •  Todos estavam lá, pescadores e marinheiros, senhoras religiosas, crianças, pessoas que passavam despretensiosamente, entretanto estava tão entregue ao momento que era como se estivesse sozinha. Ela e o Universo. Inventava mantras em sua cabeça, juntava um pouco de tudo que já tinha aprendido, mesclando crenças, unificando-as em si.
  •                
  • Jogava tudo que não lhe pertencia no mar, faxinava-se, habitava todos os cantos de seu ser e com um esfregão, tirava as cracas rebeldes que teimavam em se meter onde não haviam sido chamadas.
  • A água salgada tinha o potencial de lavar lhe a alma.







  • .

domingo, 30 de agosto de 2009

MUDANÇA DE LENTE (ajuste de foco)





Era um momento de brotação, de florescimento. Tudo borbulhava dentro dela, pensamentos, sensações e visões se apresentavam descaradamente meio sem pedir permissão para chegar.


De uma forma clara?

Não, não, tudo ao mesmo tempo, muitas espécies eram plantadas concomitantemente, de diferentes formas.

Era uma crise de sentidos?

Acho que sim. Era um tempo a ser atravessado, uma confusão só.

Limbo?

Deve ser.

Sabia que precisava realizar rupturas, precisava desgarrar.

Mas como?

Entendia que era quase que uma dor do parto, mesmo que não tenha vivido um parto real, já havia parido blocos de concreto, placas tectônicas já haviam sido paridas outrora.

Buscava um encaixe dessas placas-quebra cabeça. Talvez ficasse lindo num quadro emoldurado, reconheceria como obra artística.

Era bonito?

De se ver sim, mas muito indigesto de se engolir, não queria mais carregar essas placas, na verdade nem era uma questão de escolha, seu corpo demostrou intolerância e expeliu.

Já dançava em outra batida, tinha um prazer, ainda meio sem forma.

Estava perdida?

É, um pouco. Sentia-se diferente, havia uma mudança de paradigma.

Estava sem a base anterior, apesar de a vida inteira ter entendido essa base como algo quase que abstrato, subjetivo, nada palpável, até disso estava se despedindo.

Prezava as escolhas, aconselhava as escolhas, mas tinha medo de escoar-se inteira.


A Agua estava turva.


Sentia que estava saindo do cantarolado ancestral, porém deste, sem se desgarrar. 


A cena era:


Numa floresta bem verde, a mocinha pisava na terra molhada. Como num ritual,  brincava com a textura da Terra, deslizava seus pés, cubria-os sentindo a temperatura fresca da Natureza. Ao fundo, ouvia a malemolência e força daquela cantiga épica e apreciava o cheiro do caldo nutritivo  que havia lhe formado gente.  Quando se deu conta, crescia um girassol por dentro de seu corpo, com um caule bastante robusto, entrelaçava-se por sua coluna e a cima de sua cabeça descortinava a flor, com imponencia singular.

domingo, 16 de agosto de 2009



Andou quilometros
A terra seca já tirava o colorido de sua roupa
nada a desanimava
andar lhe trazia felicidade

(era natural)

quanto mais subia
mais instigada ficava
quanto mais selva
mais seus olhos brilhavam

passou por várias adversidades
sem grandes dificuldades.
parecia flutuar sobre pedras e barrancos

passou por mata burros.
em um deles, entrelaçou a perna

ele estava retorcido
ela sentiu o rasgo

seguiu

mais a frente achou um corrego 
se cuidou momentaneamente.

era forte
engoliu a dor

era fundo
deixou o cuidado d'agua limpar seu machucado

(queria o minimo de interferência humana)

continuou subindo
era como se limpasse a visão
todos os detalhes e texturas eram vistos (com encantamento)

"campos de poejo"
sentia a completude daquele aroma
perfumando o mundo

"campos de orquideas amarelinhas"
sentia a completude daquela rebuscada flor
embelezando o mundo

Na cidade, sentia-se desprotegida



tinha medo de gente.



quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Entrega


A mocinha e o seu par
numa noite enluarada
quase rosada, 
deixavam o vento levar 
todo pensamento que estava no ar.
Com sorriso despido
arrancou suspiro
de seu futuro marido
num aconchego aveludado
nem notou que o tempo havia passado

Era tudo colorido

domingo, 2 de agosto de 2009

Mãe Natureza

                                                
 Ela surpreende a gente, as vezes de maneiras inexplicáveis...

terça-feira, 28 de julho de 2009




 "Gloria desabou na primeira cadeira com sua bolsa pesada de cadernos, reavendo, sem mais, uma questão antiga que tanto a incomodava. Não estava apenas saboreando o incidente, catalogava-o, por compulsão, e ele passava a ser moral, e, logo, imprescindível malha na tessitura de sua vida. Aquilo cansava. Desde sua juventude invejava as amigas que comiam comendo, namoravam namorando e até mesmo colavam colando, com afinco e esmero, confundidas elas próprias com o objeto de suas ações. Como o pai na mesa, batendo o osso no garfo pra tirar o tutano, de tal modo embebido e completo que ela entendia o que era uma forma, o inteiro sem fragmentos. Desejou ser assim. Desejara sempre. Tomava banho 'sabendo,'sabia' que namorava, assistia-se existindo, exaurida, desejando ser expulsa de si para gozar a existência como coisa, bicho e algumas pessoas parecem gozá-la. não sabia formular o confuso e incomodo sentimento. Quando melhor o explicou já era quase noiva, confessando-se: padre, eu queria muito ser leviana, quero dizer, não me tornar uma leviana, por decisão, mas ter nascido leviana, bronca, suficientemente estupida pra fazer as coisas sem interrogação. Não se lembrava de o padre havê-la compreendido."




                                                                                                               Adelia Prado

  

quinta-feira, 23 de julho de 2009



Não parecia possível um simples fato leva-la a um lugar tão distante.


Numa fração de segundo presentificou história, seu corpo revirou inteirinho. Estava diante de um fenomeno que não dominava. Teve consciência na hora, porém não sabia o que fazer com aquilo, caminhava por terras aridas e remotas e ao mesmo tempo que engolia seco e contradizia-se para si mesma, sentia um certo encantamento com a grandeza e a beleza que tinha naquilo tudo que não consegui traduzir em palavra.


A vida (su)real passava lá fora, na janela daquele onibus que corria contra o tempo, num subúrbio qualquer. Fora, era um amontoado de imagens soltas a sua vista, sem significado, dentro, um turbilhão de conteúdos reviravam em seu corpo ,chacoalhava tudo. Havia o sentimento presente, fazia analogias infinitas, desenvolvia teorias, articulava ideias, lembrava de conversas importantes com amigas.


Se sentiu um veiculo de sensações. Mesmo sem aviso prévio emprestava seu corpo para que ele pudesse carregar essa bagagem milenar, com pesos variados, colorações e ritmos diverso. Era uma bagagem que crescia numa progressão geométrica. Conforme ia incluindo as tonalidades ela ia se constituindo num raio maior, com uma complexidade impalpável.


Seu corpo estava completamente contraído, e sua respiração quase não passava por aquele buraco na altura do estomago.


Acho que teve medo.



segunda-feira, 20 de julho de 2009

(en)laço





















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Chuva verde

















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Lembranças de verão




[meados de janeiro]

Chove cantaros por toda cidade

Fazendo escorrer fantasias de carnaval
Fazendo chorar euforia de carnaval

e ela, sem fantasia nem euforia
(NUA)
pensando na vida
(CRUA)


.

Universo ao meu redor




Quando se deu conta brilhava
movimentava-se igualsinho,
mas tudo girava diferente, mesmo que indo na direção proposta. 
um refrão melodiava em sua cabeça, 

vai
vai


vai

vai

vai
vai





*colagem sobre papel + foto de Mariana Kaufman

sexta-feira, 17 de julho de 2009

auto-retrato II



Revolução Cubista

com muita atenção, 
a mocinha se divide em um milhão

tece um colchão, 
e de todas as barreiras,
lança mão
vai até o fim do poção.


Receita:
um punhado de abstração
um tanto de solidão
misturado com obstinação
e uma pitada de confusão



auto-retrato I



Minhas veias migram
Ramos de veias explodem

ram i fic AÇÃO

meu corpo se movimenta liquido 








col'agua



TUM, TUM, TUM, TUM, 

quarta-feira, 15 de julho de 2009