domingo, 30 de agosto de 2009

MUDANÇA DE LENTE (ajuste de foco)





Era um momento de brotação, de florescimento. Tudo borbulhava dentro dela, pensamentos, sensações e visões se apresentavam descaradamente meio sem pedir permissão para chegar.


De uma forma clara?

Não, não, tudo ao mesmo tempo, muitas espécies eram plantadas concomitantemente, de diferentes formas.

Era uma crise de sentidos?

Acho que sim. Era um tempo a ser atravessado, uma confusão só.

Limbo?

Deve ser.

Sabia que precisava realizar rupturas, precisava desgarrar.

Mas como?

Entendia que era quase que uma dor do parto, mesmo que não tenha vivido um parto real, já havia parido blocos de concreto, placas tectônicas já haviam sido paridas outrora.

Buscava um encaixe dessas placas-quebra cabeça. Talvez ficasse lindo num quadro emoldurado, reconheceria como obra artística.

Era bonito?

De se ver sim, mas muito indigesto de se engolir, não queria mais carregar essas placas, na verdade nem era uma questão de escolha, seu corpo demostrou intolerância e expeliu.

Já dançava em outra batida, tinha um prazer, ainda meio sem forma.

Estava perdida?

É, um pouco. Sentia-se diferente, havia uma mudança de paradigma.

Estava sem a base anterior, apesar de a vida inteira ter entendido essa base como algo quase que abstrato, subjetivo, nada palpável, até disso estava se despedindo.

Prezava as escolhas, aconselhava as escolhas, mas tinha medo de escoar-se inteira.


A Agua estava turva.


Sentia que estava saindo do cantarolado ancestral, porém deste, sem se desgarrar. 


A cena era:


Numa floresta bem verde, a mocinha pisava na terra molhada. Como num ritual,  brincava com a textura da Terra, deslizava seus pés, cubria-os sentindo a temperatura fresca da Natureza. Ao fundo, ouvia a malemolência e força daquela cantiga épica e apreciava o cheiro do caldo nutritivo  que havia lhe formado gente.  Quando se deu conta, crescia um girassol por dentro de seu corpo, com um caule bastante robusto, entrelaçava-se por sua coluna e a cima de sua cabeça descortinava a flor, com imponencia singular.

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